segunda-feira, 22 de agosto de 2011

LÍDERES EM CRISE!

Por trás dos numerosos desmandos que estão ocorrendo nas famílias, na administração pública, nas empresas, e, é claro, nas próprias igrejas evangélicas em nossos dias, certamente está o fracasso da própria liderança.
E quais são os fatores que estão nocauteando os líderes, de vários âmbitos, atualmente? Poderia relacionar uma lista enorme. Prefiro, porém, aproveitar os fatores identificados por Richard Denny, escritor e consultor inglês, que fez uma extensa pesquisa sobre as causas de fracasso na liderança e chegou a algumas conclusões. Seu trabalho, embora não tenha a finalidade de enfocar a liderança cristã de maneira direta, é relevante, afinal, mesmo que mude a área de atuação, o perfil do líder vitorioso (ou não) é basicamente o mesmo. Transcreverei adiante alguns dos motivos alistados por Denny e, logo em seguida, farei sucintos comentários ligando-os à liderança religiosa.
1. Incapacidade de organizar detalhes. O líder, inclusive o evangélico, que não conseguir gerenciar as coisas mínimas dificilmente terá êxito nas questões maiores. Não raro, por falta de administrar pequenos detalhes, o líder deixa de fazer a coisa certa, do jeito certo, na hora certa, pela razão certa, levando o grupo a fracassos desnecessários.
2. Falta de disposição para fazer o que se pede para os outros fazerem - Em outras palavras, falta de exemplo. Grupo algum vai seguir fiel e sistematicamente um líder que fala e não faz, promete e não cumpre, assume compromisso e não honra-o. Tal líder segue o modelo farisaico: exige envolvimento, porém sua vida não condiz com suas pregações (Mt 23.3). O líder deve ser, sim, e sempre, o exemplo dos fiéis, o modelador de caminho!
3. Expectativa de pagamento pelo que se sabe, em vez de pelo que se realiza - Quem sabe muito deve fazer muito! Entretanto, nem todos que pensam que sabem, sabem, de fato, que pouco ou nada sabem! Os resultados permanentemente medíocres, por exemplo, evidenciam que o líder que pensa que sabe não sabe, ou, se é que sabe, não está fazendo o que sabe.

4. Medo da competição - O temor incontido de perder a vaga tem levado à ruína muitas pessoas que ocupam cargo de liderança e outro tanto maior ainda de gente que está sendo liderada. Nem a liderança evangélica está imune a tamanho perigo. Há líder que, por não saber reconhecer suas próprias limitações e tentar superá-las, torna-se um verdadeiro "assassino de talento"; procura destruir todos quantos estão à sua frente em termos de talento, habilidade, competência. E um líder desconfiado e inseguro, mesmo dentro da igreja, pode ser uma desgraça para o grupo.
Qualquer pessoa que aspira exercer alguma função de liderança numa igreja séria precisa entender, desde cedo, que na comunidade de fé que está sob sua liderança geralmente vai ter alguém que prega, ora, canta, ensina, toca, administra melhor. E isso não é necessariamente ruim. Pelo contrário. Pode ser uma bênção à comunidade de fé, basta que o líder veja-o não como rival, mas um parceiro na manutenção e expansão do Reino de Deus! (1 Co 1.10-12;3.1-9). Outra lição a ser aprendida é que ninguém fica para sempre. Líder algum dura para sempre. Cedo ou tarde alguém vai assumir o seu lugar! Seja por "livre iniciativa", seja por "livre pressão". Sábio era Moisés que soube reconhecer quando já era o tempo de "passar a tocha" (Dt 31.1-8); ele disse: "Já não posso mais sair e entrar" (v.l). Saiba, então, identificar a hora exata de entrar na arena e a de sair.
Saul é exemplo do líder que, mesmo rejeitado, procura manter o trono a qualquer preço. E o protótipo do líder que teme a competição. Ele sabia que Deus o havia rejeitado devido seu pecado e que Davi, embora jovem e inexperiente, seria o novo líder de Israel; seu tempo havia terminado naquela função. Saul, porém, jamais quis se afastar da "cadeira real". Queria ser líder e não liderado, rei e não súdito, por isso, ao invés de preparar seu substituto, preferiu matá-lo. Sua atitude insana quase tirou de Israel a chance de ser liderado pelo melhor e maior de todos os monarcas do Antigo Testamento!
Até os apóstolos foram vítima desse mal. Dominados pela inveja tentaram barrar o ministério de libertação de um anônimo que expulsava demônios; viram-no como um rival, um competidor, não como um aliado; já que não fazia parte da elite apostólica deveria parar. Jesus refutou, com termos rígidos, tal atitude (Mc 9.38-41) .
5. Ausência de pensamento criativo - A falta de criatividade é outro elemento destrutivo da liderança duradoura. Se o próprio condutor não tem imaginação, não explora seu potencial criativo, o grupo fica sem senso de destino e de propósito, incapaz de superar as adversidades que surgem no dia-a-dia tentando minar suas realizações. Quantas igrejas evangélicas estão ficando para trás por falta de espiritualidade e criatividade de seus condutores! Não poderia ser diferente. O povo está cansado de rotina, de tédio, de mesmice! E sempre a mesma coisa: nada muda; a música é a de sempre - entediante; o sermãozinho é o de sempre - falta poder e saber! Observe os temas das campanhas, dos cultos especiais, das festividades, encontros, etc. e logo fica evidente a terrível crise de criatividade que assola as igrejas evangélicas.
6. Síndrome do "EU" - A autolatria, ou a síndrome de Lúcifer, também tem devastado o ministério de milhões de líderes. Esta, na verdade, é uma piores doenças que está infectando a liderança evangélica pós-moderna. Há líder que só saber dizer o tempo todo: Eu sou , eu penso , eu faço , eu desejo , eu determino , eu , "eu", "eu"... Jesus Cristo dificilmente aparece; o "eu", contudo, está sempre em evidência. Esta não foi uma das causas da queda de Lúcifer ? Segundo a Bíblia ele caiu por: 1) falta de autocontrole, de domínio próprio: "Elevou-se o teu coração". (Ez 28.17); 2) autodivinização e valorização de suas qualidades: "(...)por causa da tua formosura" (v.17); 3) arrogância: "(...) Eu sou Deus" (28.2); 4) motivação e plano errado: "(...)sobre a cadeira de Deus me assento" (28.2); "(...) Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono(...) serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14.13,14); 5) emprego errado de sua potencialidade: "corrompestes a tua sabedoria" (Ez 28.17); 6) traição: espalhou a discórdia no céu: "(...)levou após si a terça parte das estrelas " (Ap 12.4).
O líder cristão, se não quiser ter o mesmo fim de Lúcifer, deve reconhecer que o termo menos importante no grupo é o "eu". Precisa aprender a ser humilde e empregar o termo "nós"! Não é a individualidade que faz diferença; não é o singular; é o plural, é coletivo, é o todo, é a equipe, é o "nós"! O "eu" só é bem-vindo na confissão de João Batista: "Convém que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3.30).
7. Deslealdade - Quero aplicar a esta causa o termo caráter. A retidão do líder, pelo menos no Reino de Deus, é de importância primária. Cabe aquele que conduz algum grupo em o nome e para a glória de Deus manter-se íntegro, fiel. Precisa zelar sistematica¬mente o que é honesto diante de Deus, diante da igreja e diante da sociedade, ou sua influência como condutor estará arruinada.
O Dr. Zenas J. Bicket esclarece que há tempos esperava-se que os profissionais e leigos igualmente satisfizessem os padrões mínimos de integridade e moralidade. Mas após a Segunda Guerra Mundial o caráter foi sendo mencionado cada vez menos. Parece, todavia, que o povo está voltando a preocupar-se com o caráter e a integridade dos líderes políticos, empresariais e profissionais. As falhas de caráter dos líderes religiosos e das figuras de destaque da mídia, abertamente divulgadas pela televisão e imprensa escrita, têm instigado grande ceticismo sobre todos os que se acham em posição de liderança. Kesler alerta: vários perigos rondam a vida do obreiro e podem contribuir para um resultado desastroso.
Por falta de caráter da liderança evangélica há ministério promitente sendo destruído. A sociedade pós-moderna, diante de tantos escândalos, já olha para a Igreja com certa cautela; assumiu uma posição de defensiva, afinal, não suporta mais ver tantos pecados, tantos absurdos envolvendo os "santos homens de Deus".
Que o Eterno nos ajude a recuperar a credibilidade!
8. Ênfase demasiada na autoridade (poder) - Há líder cristão que, por despreparo em outras áreas, conduz o grupo como se fosse um tirano, impondo sua vontade, forçando-o a obedecer-lhe, pois tem o poder que lhe foi dado pela denominação. Tal líder não aprendeu a liderar segundo Jesus! Está fadado à derrota!
9. Ênfase demasiada no "título" - Se o emprego demasiado de títulos já faz mal ao líder secular, imagina, então, ao líder cristão! Mas a ênfase no "título" é cada vez mais comum entre os líderes cristãos: basta ter uma função mais acentuada e logo cria-se um título para diferenciar o líder dos demais; não pode usar o mesmo "rótulo" dos outros colegas; sua imagem precisa ser iconizada! A liderança cristã precisa rever seu fundamento, sua filosofia ministerial, seus exemplos e sua práxis - com urgência, senão...


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